08/02/2007

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?

A questão do aborto gera muita controvérsia, mas pensando objectivamente, o voto no sim visa não punir a mulher por assumir uma decisão, por vezes, conjunta de um casal.
Obviamente que após a despenalização do aborto, tem de haver estratégias e acompanhamento dos casos em risco, de modo a controlá-los. Nada melhor do que Portugal proporcionar às mulheres as condições de saúde apropriadas para abortarem em segurança.
Vivemos num país livre e democrático, por isso mesmo, devemos chegar a um consenso, pois o que defendo não é um aborto praticado ao oitavo mês de gravidez, mas sim a despenalização de um acto que, até às dez semanas, poderá ter de ser realizado. Será preferível a mulher fazer um aborto clandestino, sem condições algumas, do que votar sim ao referendo? Um estudo diz-nos que, em 2006, foram realizados 18000 abortos. Não se trata, igualmente, de 18000 mulheres em perigo de vida?!
Infelizmente, hoje em dia, nem todas as mulheres se podem dar ao “luxo”, com pena do termo utilizado, de ter um filho, pois isso implica uma alteração às prioridades da vida que em Portugal já é muito difícil. Já não será suficientemente, nos dias que correm, uma pessoa se auto-sustentar? Será que vale a pena trazer um filho ao mundo para ele sobreviver, mas não viver? Uma família carenciada, normalmente, com um número de filhos considerável, não terá o direito de recorrer ao aborto, salvaguardando as condições mínimas do agregado familiar já existente?
Tentem imaginar uma adolescente violada… será que terá obrigatoriamente que ter a criança fruto desta violação? Gostará dela? Estamos de acordo neste ponto, mas então, não estamos a tirar o direito à vida neste caso? Não é esta a ideia defendida pelos apologistas do NÃO? Então nos outros casos é uma vida que se está a gerar e neste não?
Quem trabalha tem possibilidade de ter uma vida estável. Infelizmente, a pobreza está sempre ligada a famílias numerosas, por isso, entendo que a legalização do aborto ajudaria a minimizar esta situação.
A pílula do dia seguinte já não é uma forma de aborto legalizado? Tanto quanto sei, ninguém se importou com isso, hoje em dia quem está contra o aborto talvez já tenha feito uso dela…
Um preservativo pode estar danificado, a pílula não funcionar e uma pessoa ter o direito de não querer ter filhos. Deverá ser condenada a anos de cadeia por isso?
Países mais desenvolvidos do que Portugal aderiram à legalização do aborto com sucesso, então seguimo-los nuns aspectos, porque não segui-los neste, quando o que está em causa também é o direito e a dignidade da mulher?
Votando sim à despenalização do aborto não implica ser a favor da prática efectiva e abusiva deste acto. Resta apelar à consciência de cada um! O aborto deve ser um crime sem pena, sendo portanto um problema de consciência!

Paulo Nunes

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